No sertão paraibano em plena ditadura civil-militar dos anos 60, o garoto Teobaldo enfrenta o embate entre o desejo e repressão no momento em que chega um enigmático pesquisador estadunidense ao DNOCS.
Esta é a sinopse do excelente, surpreendente e oportuno Corpo da paz, de Torquato Joel, representante da Paraíba na Mostra Competitiva de Longa-metragem do 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Rodado em preto e branco, o filme é narrado numa preciosa composição de planos fechados na maioria e os abertos num grafismo na tela onde nada falta nem sobra. Se o rigor formal da decupagem sufoca na intenção de demonstrar o medo, enquadra com precisão o sentimento e nos coloca organicamente na história, na intimidade do enternecimento e perplexidade dos personagens.
Como um Yasujiro Ozu no agreste paraibano, o diretor conduz em narrativa minimalista: os planos com tripé-baixo, a câmera-tatame à altura dos corações que pulsam curiosidade e estranhamento.
A partir de vivências marcantes e lembranças pessoais, Torquato ambienta esse recorte do período de ditadura em seu chão sertanejo com serenidade, sutileza e lucidez crítica. Através do olhar do garoto, extrai percepções para o entendimento e reflexão de todos. Cada cena é rica em detalhes, cada sequência é extensa em afluentes narrativos.
A vastidão do sertão paraibano é um pedaço daquele Brasil de duas décadas que vivemos de arbitrariedades, de torturas, de corpos sumidos, jogados ao mar, ou “afogados” em açudes, como particularmente é mencionado num diálogo do filme.
O sertão e o garoto Teobaldo como metonímias de um país.
No cinema brasileiro, cada cena é um retrato da nossa história.