Itália, tua capital, século XXI.
O drone passeia sobre a beleza de tua história, sobre o silêncio de tuas ruas, sobre a ausência visível de teus transeuntes, sobre a presença invisível de teus mortos.
Ao contrário do filme de Rossellini, Roma, ocupada pelos nazistas, declarada cidade aberta para evitar bombardeios aéreos, os comunistas e os católicos unidos para combater os alemães e as tropas fascistas, o drone sobrevoa 75 anos depois sem bombas, lagrimejando suas hélices redondas sobre o vazio que se une ao isolamento nas casas para combater o inimigo que não se vê. O neorrealismo reinventado sem Francesco e sua noiva Anna Magnani grávida, sem a bênção do padre interpretado por Aldo Fabrizi, e agora papa Francisco solitário reza a missa para o mundo na imensidão desértica da praça São Pedro.
Roma, città aperta, sem os visitantes jogando suas moedas na Fontana di Trevi e molhando seus desejos, muito menos uma imagem holográfica na memória afetiva de Anita Ekberg banhando-se com seu longo vestido noturno, enquanto Marcello Mastroianni tenta achar leite para um gatinho que ela tinha visto nas ruas.
Roma, tão bela, a vida voltará bela, como um sonho de Fellini, depois das pálpebras de neblina, da lágrima negra tinta na pele d'alma, outro tempo, ah, vídeo de uma outra luz. Em vez do drone, serão pássaros.
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