sexta-feira, 24 de setembro de 2021

o cais de seu destino


foto Alex Meira

Em sua fala para o meu documentário Pessoal do Ceará - Lado A Lado B, o cantor Lucio Ricardo conta do perfil transgressor de sua banda Perfume Azul na década de 70, o convite de Ednardo e Augusto Pontes para o show Massafeira Livre em março de 1979, os dois dias de viagem de ônibus de Fortaleza para o Rio de Janeiro para gravar o disco coletivo, as reuniões e ensaios no hotel em Santa Teresa, a emoção de entrar no estúdio onde gravavam Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps, Jerry Adriani, as batidas da polícia nas redondezas que implicava com os cabeludos e as substâncias engolidas queimando goela abaixo para evitar o flagrante, a alegria de ver duas músicas suas no vinilzão duplo, a perspectiva de projeção da carreira artística naquela virada de década, e com tranquila e lúcida sinceridade, o lamento de ainda, a essa altura da sua idade, o não reconhecimento de seu trabalho como cantor no objeto direto de um disco.

À parte um CD ao vivo gravado na Feira da Música em 2002, e Notas da memória, de 2016, onde interpreta composições de Joaquim Ernesto e Silvio Barreira, Lucio Ricardo com mais 40 anos de carreira, não tem um disco para chamar de seu, "que realmente mostre o meu potencial de cantor", diz olhando no foco da câmera: um olho no retrovisor do passado, outro no painel do presente, e os dois olhos no que virá, se virá.
Ou como diz um trecho de Aviso aos navegantes, canção sua e de Siegbert Franklin gravada no disco Massafeira, 1980:
Sendo o cais o seu destino,
eterno nunca chega.
Dando aviso aos navegantes
que é preciso despertar com o Sol

Nenhum comentário: