quarta-feira, 22 de maio de 2019

um artista brasileiro

foto Leo Aversa
Em 2016, o funcionário de uma barbearia na Tijuca perdeu um cliente por falar mal de Chico Buarque, a quem chamou de "comunista".
Após ouvir que tocava Chico no rádio, o responsável pelo caixa perguntou: "Odeio comunista. Vocês se incomodam se eu tirar a música desse escroto?".
O cliente rebateu: "Você acaba de perder um cliente. Intolerância política já é ruim. Cultural é pior ainda!"
"Quer vulgaridade e ignorância maiores que um marmanjo com acesso à educação e à cultura precisar de explicação, no século 21, sobre quem é Chico Buarque?", disse o escritor e jornalista Mário Magalhães, do The Intercept, quando o cantor foi hostilizado por um grupo de rapazes, ao sair de um restaurante no Leblon, aos gritos de "Você é um merda!”, "petista!", "ladrão!”
Sobre todos esses ataques destes tempos da indelicadeza, Chico Buarque disse, com seu cavalheirismo habitual, que “acho que vou começar a usar esses fones na rua. Gosto de caminhar e, por onde caminho, nos bairros chiques do Rio, as pessoas finas passam com seus carros grandes e gritam: 'viado filho da puta!', 'viado, vai pra Cuba', 'vai pra Paris, viado'. O único consenso é o 'viado'”.
Na contramão da legião de bestas quadradas, da corja ignara institucionalizada, dos ‘idiotas inúteis’ olavistas, o cantor, compositor e escritor Chico Buarque ganhou o Prêmio Camões 2019 pelo conjunto da obra, já dono de três Jabutis em sua coleção de honrarias literárias.
Criado em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Camões elege a cada ano um escritor de países onde o português é a língua oficial. Chico foi escolhido por uma equipe de seis jurados, os portugueses Clara Rowland e Manuel Frias Martins, os brasileiros Antonio Cicero e Antônio Carlos Hohlfeldt, a angolana Ana Paula Tavares e o moçambicano Nataniel Ngomane, indicados pela Biblioteca Nacional do Brasil, pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela comunidade africana.
“Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, disse Chico Buarque ao receber a notícia, ontem, referindo-se ao mais recente brasileiro a ganhar o prêmio, em 2016.
Além do autor de Lavoura Arcaica, outros escritores brasileiros já foram merecidamente agraciados com o Camões: João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Antônio Candido, Autran Dourado, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar , Dalton Trevisan, Alberto da Costa e Silva e a cearense Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ser comtemplada com o Prêmio, em 1993.
Parabéns, Chico Buarque! Continuamos com sua banda cantando coisas de amor.

Nenhum comentário: