"Por um ano fui quase vizinho desse prédio, passava aí na frente vários dias da semana. Era colorido, vibrante, paradoxal e insano - como a nossa cidade. Sua morte, nascida do descaso e do desprezo, é também a nossa morte como cidadãos. Estamos todos do lado de fora, como os moradores desse prédio estão agora - mas nos esquecemos, enganados pelo nosso conforto. Sim, a culpa pelo incêndio é do Estado - e portanto de todos nós. Quero lembrar dessa esquina assim, louca e colorida e habitada, como na arte (acima) do amigo Carca Rah."
- Ronaldo Bressane, jornalista, sobre o Edifício Wilton Paes de Almeida, 24 andares, no centro da capital paulista, que incendiou e desabou nesta madrugada de 1º de maio.
Abandonado, mais de 50 famílias pobres ocupavam o prédio há anos, de forma necessária e irregular. Eram "paus de arara, passistas, flagelados, pingentes, balconistas, palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados", como diria a letra de O Rancho da Goiabada, de Aldir Blanc.
Projetado em 1961, tombado como patrimônio histórico em 1992, foi prédio da Polícia Federal de 1980 a 2002, e do INSS até 2010, e desde então largado ao descaso das autoridades incompetentes.
As famílias que lá moravam não tinham outro teto. Tinham passado e nenhum futuro. Tinham onde habitar a pobreza, tinham um endereço, mas não tinham um lar. Viviam dormindo de olhos abertos / à sombra da alegoria dos faraós embalsamados, retomando à letra musicada por João Bosco.
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