No dia 23 de dezembro de 1888, em um momento de forte depressão, o
pintor holandês Vincent Van Gogh cortou uma navalha um pedaço da própria orelha
esquerda. Embrulhou em um lenço e levou para uma amiga, a prostituta
Rachel, que desmaiou ao receber o mórbido presente natalino. "Guarde com
cuidado", dizia um bilhete anexo.
Essa é a versão que conhecemos
sobre o fato ao longo desses dois séculos, desde as Enciclopédias
Barsa, Delta-Larousse... até a Wikipédia.
Em 2009, os historiadores suíços Hans Kaufmann e Rita Widegans
publicaram o livro A orelha de Van Gogh, Paul Gaugin e o pacto de
silêncio (Van Goghs Ohr, Paul Gauguin und der Packt des Schweigens),
resultado de dez anos de pesquisa, e conta outra história para a atitude
radical do pintor.
No
bombástico livro, os autores apontam situações que em parte sabemos, a
relação dificil de Van Gogh com o pintor francês Paul Gauguin. Morando
juntos por um tempo, os dois discutiam muito sobre conceitos e formas de
criação artística, e suas teorias eram sempre incompatíveis. Van Gogh,
de temperamento instável, não se conformava com o plano do amigo sair do
atelier nos arredores de Paris e voltar para a capital. Queria mantê-lo
sempre por perto. Gauguin era um exímio esgrimista, e numa violenta
discussão o fere acidentalmente. Diante da tragédia, sem quererem
repercussão, os dois fizeram pacto de silêncio. Apaixonado pelo amigo,
Van Gogh manteve a história de autoflagelo. Foi internado por um ano num
hospício, e ao sair, no tempo que não se imaginavam as selfies,
postou-se diante do espelho e pintou para a posteridade, e eternidade, o
autorretrato reproduzido acima. O quadro encontra-se exposto no
Instituto de Arte Courtauld, em Londres.
Van Gogh foi ao extremo: suicidou-se dois anos depois do acontecido.
O livro de Kaufman e Widegans, em uma investigação preciosa, baseia-se em inúmeras cartas de amigos e dos próprios pintores, relatórios policiais, escritos de testemunhas, notas de jornais. A leitura joga novas luzes sobre os girassóis e nos deixa com a pulga atrás da orelha - sem trocadilhos.
Van Gogh foi ao extremo: suicidou-se dois anos depois do acontecido.
O livro de Kaufman e Widegans, em uma investigação preciosa, baseia-se em inúmeras cartas de amigos e dos próprios pintores, relatórios policiais, escritos de testemunhas, notas de jornais. A leitura joga novas luzes sobre os girassóis e nos deixa com a pulga atrás da orelha - sem trocadilhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário