domingo, 5 de julho de 2009

as estações de Max

foto Nikolai Zhelyazkov

O filme "Monsieur Max", sobre o poeta, pintor e escritor Max Jacob, exibido hoje no Eurochanel é dirigido por Gabriel Aghion, produzido para TV há uns três anos, e o último trabalho do ótimo ator argelino Jean-Claude Brialy, que faleceu em 2007, aos 74. Se não me engano, a Eurochanel está fazendo uma homenagem a ele, exibindo alguns de seus mais importantes filmes. Brialy foi um dos nomes mais presentes na Nouvelle Vague francesa, dirigido por cineastas como Claude Chabrol, Eric Rohmer, Godard, Louis Malle, Agnès Varda, Truffaut. Embora tenha atuado também na direção, foi como ator que ficou mais conhecido e premiado.

Sobre Max Jacob, é um artista que tem uma obra fascinante e uma vida dramática. Judeu convertido ao catolicismo, amigo de Pablo Picasso, Jean Cocteau, Jean Marais, foi preso pelos nazistas em 1944, morrendo nesse mesmo ano num campo de concentração. Deixou uma obra literária magnífica. E ele mesmo dizia ter inventado o gênero prosa poética, ou poemas em prosa, como afirmava.

Teoria controversa ou não, o texto abaixo, "Noturno das vacilações familiares", é prosa, é poético, é belíssimo:


"Há noites que terminam numa estação! Há estações que terminam na noite! Quantos carris não atravessamos de noite! Tenho o corpo dorido dos ângulos salientes do vagão, à noite; dói-me ainda o deltóide. Quando esperávamos a irmã mais velha ou o papá, aquilo acabava sempre de maneira que seria melhor não contar: com o par de sapatos regado pela farinha do pão. Mas tenho, numa estação, um irmão antipático: chega sempre no último momento (tem lá as suas ideias); e então é preciso abrir uma mala que o criado não trouxe ainda; e, quando chega à bilheteira, não sabe ainda para que estação deve dirigir os vagões: hesita entre Nogent-sur-Marne e Ponts-de-Cé e outras localidades. A mala está aqui, aberta. Não comprou ainda o bilhete e as lanternas a gás debalde procuram transformar a noite em dia e o dia em noite. Há noites que terminam numa estação e estações que terminam na noite. Ah, maldita hesitação, foste tu que me perdeste e bem longe das vossas salas de espera, ó estações!"

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