domingo, 8 de novembro de 2009

Anselmo Duarte absolutamente certo


foto AE

"Depois de todas as constatações, é possível extrair uma conclusão de significado doloroso: o meu erro histórico foi ter retornado ao Brasil, após ter dirigido o filme mais premiado do mundo, em 1962. Se a sensibilidade fosse maior que a saudade, teria aceito um dos diversos convites que recebi para dirigir em Hollywood, na França e na Índia. Se me fosse dado o poder de refazer a minha história, jamais retornaria ao meu país para ser alvo de esculhambação da crítica e de desfeita dos agentes ditatoriais."

Anselmo Duarte, falecido ontem aos 89 anos, nas páginas finais de sua autobiografia "Adeus, cinema", lançada em 1993 pela Massao Ohno Editor, ao falar sobre tudo que envolveu a produção e repercussão de "O pagador de promessas", o primeiro e até agora o único filme brasileiro a ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
O livro é de uma sinceridade que em alguns momentos causa uma sensação de amargura. Anselmo não usa meios-termos, não poupa pessoas nem esconde fatos, não disfarça os defeitos nem minimiza a importância de seu trabalho como cineasta, e, antes que lhe esqueçam, diz logo nas primeiras páginas, que ao publicar o livro correu "o risco consciente e involuntário de fazer história do cinema brasileiro". A elegância, no entanto, está em todas suas palavras, em um depoimento que comove pelo coração aberto.

Anselmo é um dos cineastas brasileiros que mais admiro. Outro que tem de mim a mesma afeição e respeito pela pessoa e trabalho, é Carlos Reichenbach,  que sempre enriquece quando conversamos, sobre cinema, sobre a vida. Desejei muito ter a mesma amizade com Anselmo. Nunca tive a oportunidade de estar pessoalmente com ele. Nossa relação (unilateral) ficou mesmo através do cinema - o que não é pouco. Mas se me fosse dado o poder de refazer a história, teria dado um jeito de encontrá-lo.

4 comentários:

Selma Santiago disse...

absolutamente certo.

Alexandre Marino disse...

Nirton, infelizmente ele estará cada vez mais certo. No país da amnésia galopante e contagiosa, este livro deveria ser reeditado e permanecer sempre disponível nas livrarias e bibliotecas. Mas não temos bibliotecas e as poucas livrarias não passam de supermercados de marketeiros. Enquanto a mídia, cooptada pelas panelinhas do cinema novo, o conduziu ao ostracismo, o pobre cinema brasileiro foi incapaz de ganhar outro prêmio importante. Agora, que ele morreu, provavelmente vão redimi-lo... Caso tipicamente brasileiro.

Nirton Venancio disse...

Alexandre, seu comentário enriquece minha homenagem ao grande Anselmo Duarte.
Quanto ao livro, pode ser que se consiga em algum sebo. Querendo, empresto-lhe o meu.

Nirton Venancio disse...

Selma, Anselmo estará sempre certo.