Verso de Três apitos, de Noel Rosa, e o que melhor define seu perfil e sua história. Como um dândi enviesado, o compositor foi um cronista de si, atravessando a noite e curtindo a vida na contramão dos bons costumes do lugar, entre a contínua boemia e o casamento arranjado por sua mãe com Lindaura, ela com 15 anos, ele com 24.
Noel começou a compor Três apitos em 1931, inspirado em Fina, operária de uma fábrica, possivelmente a de tecidos Confiança, próximo a sua casa, em Vila Isabel. Noel teve um namorico com a moça que fazia pano, dizia ser o romance mais sincero de sua vida. Junto ao piano aprimorou os versos ao longo do ano seguinte e em 1933 considerou a canção finalizada. Mas ele não gostou do resultado, achava um mau samba, cheio de incorreções poéticas. Não quis que fosse gravada.
Somente em 1951, 14 anos após sua morte, teve o primeiro registro em disco, na voz de Aracy de Almeida, em Feitio de oração, LP só com repertório de Noel. Em uma de suas raras entrevistas, à revista A Pátria, de 1936, o compositor declarou que "Aracy de Almeida é a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo".
O jornalista e pesquisador Rafael Cosme, que prepara um livro de memórias sobre o Rio de Janeiro, estruturado em imagens fotográficas de 1900 a 1980, encontrou recentemente numa feira de antiguidades da Praça XV, um dos 3x4 de Noel Rosa usado na sua carteira de trabalho, de 1935. O compositor foi até a Praça Tiradentes, entrou no Foto Câmara e bateu uma chapa. Não se sabe que caminhos percorreu a preciosidade nessas oito décadas.
Noel Rosa viveu apenas 26 anos e cinco meses dos 113 que hoje completam do seu nascimento. Tudo nele é raro: talento, amores e tempo.
Fotos: Acervo Rafael Cosme / Acervo Arquivo Nacional
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