Na manhã fria do Dia de Finados de 1975, um domingo, em uma tranquila praia italiana em Ostia, a 30 quilômetros de Roma, uma senhora se chocou com o aparecimento de um corpo desfigurado. Por um instante, antes do espanto e grito, pensou tratar-se de um amontoado de lixo, tamanho o entulho em volta. Era o cineasta e poeta Pier Paolo Pasolini.
Segundo a versão oficial, o cineasta, comunista declarado e homossexual assumido, foi assassinado pelo garoto de programa Giuseppe “Pino” Pelosi. Tão controversa quanto sua vida, sua morte tem até hoje mistérios difíceis de decifrar. Pasolini era uma figura incômoda na cena cultural e política do país. Meses antes de sua morte realizou o perturbador Salò, ou os 120 dias de Sodoma, baseado no livro 120 dias de Sodoma, ou Escola de Libertinismo, do nobre francês Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, escrito em 1785. O cineasta ambientou a história entre 1944 e 1945, durante a ocupação nazifascista, num castelo no norte da Itália. Governo, igreja, nobreza e magistratura são poderes representados por personagens doentios da estrutura fascista. Pasolini, com sua criatividade de adaptações de fatos históricos, relaciona esse período a uma conjunção de fatores com o surgimento nos anos 70 da juventude neofascista e governos totalitários.
Em 2015, para lembrar os 40 anos de sua morte, uma série de pinturas em homenagem ao cineasta apareceu em áreas ao redor do centro turístico de Roma e Ostia. O autor é o artista plástico francês Ernest Pignon-Ernest, e essa abaixo simboliza um duplo retrato de Pasolini carregando a si próprio, vivo e morto, modelado à maneira de Pietà, de Michelangelo.
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