quarta-feira, 12 de agosto de 2020

melhor que o silêncio só John

“Eu estou aqui e não há nada a dizer. Se algum de vocês quiser ir a algum lugar, pode sair a qualquer momento. O que se requer é silêncio, mas o que o silêncio requer é que eu continue falando. Dê ao pensamento de alguém um empurrão e ele cai logo, mas o que empurra e o empurrado produzem é esse entretenimento chamado discussão. Vamos ter uma daqui a pouco? Ou podemos decidir não ter uma discussão. Como vocês quiserem. Mas agora há silêncios. E as palavras fazem, ajudam a fazer os silêncios. Eu não tenho nada a dizer e o estou dizendo. E isto é poesia, como eu quero, agora.”
“Nenhum som teme o silêncio que o extingue. E não existe silêncio que não seja prenhe de som.”
- Trechos da histórica palestra Silence: Lectures and Writings, do compositor e teórico musical norte-americano John Cage, proferida em 1961 na Universidade Wesleyan, em Middletown, Connecticut, EUA, publicada na Wesleyan University Press, traduzida no Brasil por Augusto de Campos em seu ótimo livro de ensaios Música de Invenção, de 1998, reeditado em 2007 pela Editora Perspectiva.
Passa-se a vida inteira não para compreender, mas para sentir a grande música experimental e poética de John Cage. E o seu silêncio. E lendo o que ouviu Augusto de Campos o silêncio fica prenhe de Cage. E as palavras fazem, ajudam a fazer os silêncios.
Acima, o compositor fotografado por Henning Loehner, um ano antes de seu silêncio definitivo, em 12 de agosto de 1992, aos 79 anos.

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