"A mentira está presente em qualquer assunto humano. A civilização é impossível. O homem é como uma praga. Ficam pequenos os grandes conflitos da humanidade. Ficam pequenos em comparação com o conflito do homem consigo mesmo. Pobre gente trabalhadora, caluniadora e fornicadora. Sempre preocupados com o preço das coisas. Sabem que antes de comprar sempre perguntam o preço das coisas? E já não acreditam no bem e no mal. Só acreditam na economia. Estúpidos!"
Trecho da peça "El año del Ricardo", escrita, dirigida e interpretada pela espanhola Angélica Liddell, que de maneira magnífica e incômoda vive um désposta à procura de um partido. Um partido político.
O espetáculo teatral foi um dos melhores que já vi nos últimos tempos. São duas horas e 20 minutos ininterruptos de um texto denso, instigante, com uma pitada reflexiva de Nietzsche, numa encenação que lembra Artaud. Nada fica impune ao tirano que por vezes se traveste de democrata. A narrativa poética e performática de Angélica no palco trata de temas como a decadência da instituição familiar ou o lado negro do ser humano, a morte e o sexo. A autora diz que não faz teatro político. Afirma que segue sua empreitada de insultar a família, o Estado, a Igreja, as instituições, a si mesma. "Crio inspirada nesse monstro", disse numa entrevista. E detalhando o trecho acima, Angélica acredita que "o grande genocídio da nossa época é a economia. Hoje, o poder não reside na ideologia. Reside na economia." Está certíssima.
"El año del Ricardo" encerrou domingo passado, dia 7, em Brasília, o projeto Cena Contemporânea, que trouxe à cidade espetáculos do Brasil e de países como França, Espanha, Portugal, Israel, Alemanha, Inglaterra, Venezuela, Itália, Peru.
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